quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A PERIFERIA GANHA PERSONALIDADE


A cultura "culta" sempre foi o epicentro de todo pensamento e os centros urbanos seu quartel general. Das primórdias civilizações orientais, aos impérios greco-romano e mesmo na Idade Média onde a censura e o fanatismo religioso imperava, o Renascimento, o Iluminismo da Idade Moderna, também seguem este roteiro, até chegar à contemporaneidade com suas megalópolis. Centros de expansão cultural medem-se pela proporção de grandeza urbana. Assim foi por milênios.

Não obstante essa "Ferrari" percorrer sempre as mesmas rodovias, eis que surge um tipo de contra-cultura urbana produzida pela periferia, com seu fusca envenenado, percorrendo vias nunca dantes trafegáveis. Muito diferente do movimento de contra-cultura política dos anos 60, que desinformava o formal, ridicularizava os preceitos, a ordem natural explicada pela cultura centrista-urbana e tentava uma utopia planetária capaz de criar Zaratustra anunciando a todos uma "Nova Ordem", tal como Frederich Nietzsche.

O novo "super-homem" nietzschiano é diferente. Ele foi parido nas periferias marginalizadas das cidades grandes e propõe a cultura do inculto. É a utopia dos desvalidos com suas armas toscas e berrantes forjadas não em Vulcano, mas nos guetos e favelas.

Se o super-homem de Nietzsche é liberto dos entraves do bem e do mal, um titã, um colosso egocêntrico, viria para a conquista futura do mundo. Uma nova raça de homens, recuperando e restaurando as autênticas e primitivas paixões, (bárbaras, violentas, extremadas) sufocadas pela moral convencional e pela religião, a levar tudo de roldão; o super-homem "guetista" tenta desestabilizar o centrismo e alterar a ordem estabelecida culturalmente.

O hip hop, embora tenha sua origem nos anos 60 nos EUA, atualmente se expande e ganha a mídia, bradando sobre os conflitos sociais, as desigualdades, a violência, a discriminação às classes desfavorecidas. O RAP, os DJs, a dança do break dance e a pintura do grafite já fazem parte de nosso cotidiano e não somente como um fenômeno urbano periférico.

Não percebo na ordem natural culta, nem na mídia, alguma abordagem deste ponto de vista, desta inversão que tenta romper o tradicional e os valores tidos como evolutivos, onde na ponta estão os "virtuoses". Seria mais um movimento que não resistiria o espaço-tempo ou algo que poderia deslocar o eixo da filosofia?

Influenciado pela onda, o sábio tá compondo um Rap, dedicado ao seu tio: Rap tio