quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

SÓCRATES & PELÉ – HOMEM & CARICATURA

Paradoxalmente às vésperas de seu time de coração, o Corinthians, sagrar-se campeão brasileiro de 2011, faleceu o doutor Sócrates. Ele foi um atleta fora de série. Além do Corinthians jogou no Santos, Flamengo, no exterior e na seleção brasileira. O seu atributo que mais valorizo, no entanto, não foi a sua atuação profissional e sim como homem autêntico, destemido e idealista.

Sócrates importava-se com o povo brasileiro. Mostrou sua cara nos comícios da “Diretas Já”, foi um batalhador para a redemocratização do Brasil, para acabar com a indecente Ditadura Militar que infelicitou nosso país por mais de 20 anos e de cujos reflexos ainda sofremos. Liderou a chamada “Democracia Corinthiana”, uma experiência inédita no mundo do futebol, onde os jogadores eram os que decidiam sobre o destino e orientação do clube. Enfim Sócrates foi um homem que nunca se omitiu e que se posicionou sempre acima de seus interesses pessoais, talvez por isso não tenha tido tantos holofotes da imprensa assim como tem Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

Pelé foi, sem contestação, o maior jogador de futebol que o mundo já conheceu. Como homem, como pessoa humana, no entanto, foi e é um arremedo, um omisso de carteirinha. Enquanto Sócrates tinha uma visão ampla, irrestrita, Pelé sempre olhou para o seu umbigo. Durante a Ditadura Militar o “Rei” era conhecido em todo planeta. Um gesto seu, uma palavra sua contra a referida Ditadura poderia ajudar a redemocratização do Brasil, a volta ao Estado de Direito. O “Rei, no entanto, preferiu aliar-se aos donos do poder.

A quem muito é dado, muito será exigido, porém no caso de Pelé, que recebeu tudo do povo brasileiro, não houve retribuição.

Pelé, preconceituoso, vaidoso e bajulador dos poderosos, maculou a sua trajetória de glórias quando repudiou publicamente sua filha Sandra, por ser ela filha de uma empregada doméstica negra com a qual Pelé teve um caso quando ele era jovem. Esta jovem senhora só o procurou depois de adulta. Queria ter o reconhecimento paterno. Edson Arantes negou a paternidade embora a fisionomia da moça não deixava dúvidas. O caso foi para os tribunais e através do exame de DNA ficou comprovada a paternidade. Nem  assim Pelé aceitou. Mesmo em seu leito de morte, quando ela pediu para o pai viesse vê-la, o “Rei” recusou-se. Em 2006 Sandra faleceu aos 42 anos de câncer na mama, deixando 2 filhos menores. Ela sempre teve uma vida própria, independente do pai. Foi vereadora pela cidade de Guarujá por dois mandatos. No enterro uma empresa do “Rei” enviou uma coroa de flores. A mãe de Sandra, a mesma que o “soberano” um dia teve um caso, a lavadeira negra e humilde, recusou a coroa de flores. Demonstrou ter mais dignidade que o superstar que só aparecia em público acompanhado de belas loiras caucasianas.

Sócrates foi majestoso, digno e autêntico. Pelé é o ícone da canalhice bem acobertada pela mídia bajulatória. A trajetória de Sócrates ficará imortalizada nas suas ações e palavras; a trajetória de Pelé ficará em um velho álbum de figurinha de futebol, amarelado pelo tempo e dele nunca vai ser capaz de sair.

Em tempo: sou palmeirense.
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