domingo, 20 de abril de 2008

50 ANOS DE BOSSA NOVA

João Gilberto, "desafinou" para desafiar

A Bossa Nova foi e é uma revolução silenciosa, pacífica e delicada. Rompeu com as manifestações artísticas arraigadas e propôs uma nova linguagem de leveza e simplicidade. Essa mensagem foi posteriormente entendida por músicos como Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento. A forma de cantar, compor e tocar, tendo como guru o baiano João Gilberto, re-elaborando lições do cool jazz e do samba tradicional e indo mais para trás, na forma de cantar de Bing Crosby, ou de cancioneiros da década de 40, como Orlando Silva, entre outros.
João apareceu cantando numa divisão diferente, a voz flanando livre – a se desequilibrar e equilibrar-se como nunca observado em um cantor de música popular. Essa nova divisão no modo de tocar e cantar, absorvendo elementos jazzísticos ao mesmo tempo em que remetia às criativas divisões dos sambas de compositores tradicionais.
O movimento foi radical e representou um avanço modernizador na nossa cultura musical, passando a influenciar todo mundo Ocidental, inclusive o jazz, que o tinha influenciado. Stan Getz, Frank Sinatra gravaram com João Gilberto e Tom Jobim. Bob Dylan afirmou: ”Algumas pessoas podem gostar de um suave cantor brasileiro. Mas eu já de desisti de fazer qualquer tentativa de atingir a perfeição”.
Chico & Vinícius
Talentos se incorporaram ao movimento, como, Johnny Alf, Carlos Lyra (o segundo maior compositor de bossa nova), Newton Mendonça (compositor- letrista), Vinicius de Moraes (letrista), Sérgio Mendes, Ronaldo Bôscoli (letrista), Roberto Menescal, Baden Powell, João Donato e naturalmente Tom Jobim.
Tom se tornou sinônimo de bossa nova erguendo uma obra com características incomuns no campo da música popular. Seu trabalho se deixou influenciar pela música erudita (Villa-Lobos, Chopin, Gershwin) e reverenciou o passado da canção popular brasileira como Ary Barroso, Custódio Mesquita e Dorival Caymmi e também da música norte-americana pretérita. Pode-se afirmar que se tornou o maior compositor de canções do mundo, na segunda metade do século 20, se considerarmos a linguagem e a linhagem - e sua inclusão nela - dos que, na primeira, elevaram a canção a uma altura considerável, os chamados grandes autores clássicos dessa arte: Cole Porter, os irmãos Gershwin, Rodgers e Hart, Irving Berlin
Seus grandes hits foram e são também grandes ícones mundiais: Garota de Ipanema, Samba de Uma Nota Só, Desafinado, Chega de Saudade, Insensatez, Só Tinha de Ser com Você, Dindi, Samba do Avião, Águas de Março... Com ele - e com João -, principalmente, a música brasileira obteve um sucesso internacional que só obtivera antes com Carmen Miranda, nos anos 1930 e 40.
Vinicius de Moraes, principal letrista do movimento, viria a formar a tríade mais importante na evolução da Bossa Nova justamente com João Gilberto e Tom Jobim. Como resultado a música popular brasileira vivia a contar com compositores que também se destacariam como intelectuais na cultura nacional.

Nara com sua voz angelical divinizou a Bossa
Meio século depois, o movimento que mudou as diretrizes na música popular no Brasil e no mundo continua firme, a desafiar inovações próprias de gerações que se sucedem, a provar que algo foi novo na sua época pode permanecer novo, atual.
Quando estive nos EUA, no começo da década de 70, notei que os americanos só tinham referências sobre o Brasil pela música de João Gilberto e pelo futebol de Pelé.